No início era…

 

“Eu quero seis pão e doze fatias de mortadela”.

Era o que a gente sempre pedia ao atendente do supermercado, antes de ir pro caixa pegávamos umas duas caixas de suco Ades.

Tínhamos quinze de idade ou menos, no início dos anos 2000 quando começamos a sair do distante bairro da Fazenda Viaduto para ir até o centro de Suzano (SP) explorar as possibilidades da cidade na busca de um pico para andar de SKATE.

Tudo era mais simples, tentar aprender as manobras, sentar na calçada e dar muitas risadas enquanto os sanduíches de pão com mortadela eram degustados.

Nos sentíamos os adolescentes mais felizes do mundo, mesmo que para isso a gente tivesse que vir de skate ou pedalar vindos de bairros distantes até o centro, entre subidas e descidas, asfalto bom ou de péssima qualidade.

Nossa banca, bonde, crew, gangue, rapa, ou seja lá como você queira chamar, era muito diversa, cada um tão diferente do outro que parecia que a gente se completava.

Eu era o típico garoto gordinho e tímido, que tentava se informar sobre toda essa cultura urbana que o skate apresentou, sempre lendo e assistindo muitos filmes, lembro de toda semana conhecer uma banda/música diferente e ficar maluco com todas aquelas novidades.

Meu bom amigo Sebá aprendia as manobras rápido e não cansava nunca, o Rosca tinha um baita pop, lembro que certa vez ele conseguiu pular uma bicicleta.

O Léo era o mais atento em tudo que a gente fazia e nas músicas que ouvia, tenho a sensação que servimos de irmãos mais velhos pra ele. Um tipo de família alternativa, formávamos uma verdadeira família das ruas.

Jackinho o mais novo e o menor, literalmente ele quase cabia dentro de uma das nossas mochilas.

E tinham tantos outros moleques com a gente, um SALVE para Wellington Jaguá, Felipe Luz (RIP), os irmãos Eric e Guilherme, minhas amigas Fran e Roberta, o Adriano Testa e vários outros.(Difícil lembrar de tantos nomes e pessoas).

A gente era feliz e não sabia!

Hoje depois de tantos anos cada um foi pra um lado, fazer seus corres e viver suas vidas.

Infelizmente alguns não estão mais entre nós e isso é triste demais, vários amigos, jovens e com toda uma vida pela frente.

Teve quem se perdeu , quem foi pra prisão, quem teve sua vida prematuramente ceifada e também os que ainda estão por aí, assim como eu, vivendo a vida adulta.

Nessa época eu ainda não tinha pretensões fotográficas e celulares com boas câmeras, então quase nada disso foi registrado.

Eu continuo gordinho, tímido e tão aficionado por culturas de rua quanto antes, hoje moro em outro estado, com novos amigos, mas, sempre que eu posso, ainda faço a mesma coisa. A coisa mais legal que existe, sair pra andar de SKATE. E quando isso acontece de alguma forma me conecto novamente com todos que passaram pela minha vida. Que dividiram a sessão de SKATE, dividiram o pão, as risadas e também os momentos de dificuldade.

 

Obrigado por fazer ser quem eu sou e quem eu gosto de ser, agradeço também por me apresentar um mundo inteiramente novo, repleto de influências, na moda, na arquitetura, geopolítica e um bocado de coisas mais. OBRIGADO SKATEBOARDING!